Monday, June 26, 2006

14. Agostinho. As Confissões.

Selecionei duas passagens de Santo Agostinho. Nelas nos interessarão diversos aspectos, entre eles o que mais adiante chamaremos de “profusão grafomórfica” da Filosofia. Aqui vai também a famosa passagem sobre a análise do conceito de “tempo”.
A Sedução do Perfume. Não me inquieto demasiado com as seduções do perfume. Quando está afastado, não o procuro. Quando o tenho presente, não me esquivo, mas também estou preparado para dele me abster. Ao menos assim me parece. Talvez me engane.
A própria razão, que em mim existe, de tal maneira se esconde nestas trevas deploráveis que me rodeiam que, quando meu espírito se interroga a si mesmo acerca das próprias forças, julga que não deve acreditar facilmente em si, por desconhecer, na maior parte dos casos, o que nele se passa, exceto quando a maior experiência claramente lhe manifesta.
Ninguém se deve ter por seguro nesta vida que toda ela se chama tentação. Quem é que, sendo pior, não se pode tornar melhor, e de melhor descer a pior? Só há uma única esperança, uma única promessa inabalável: a Vossa misericórdia.
O que é o tempo?
...Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem poderá apreendê-lo, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizer quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se quiser explicá-lo a quem me fizer a pergunta, já não sei.

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