Wednesday, May 16, 2007

As profissões impossíveis (2)

Achei. Freud faz, em sua obra, duas menções en passant sobre as profissões impossíveis. A passagem mais famosa está mencionada na postagem abaixo. O outro lugar é o "Prefácio a 'Juventude Desorientada', de Aichhorn, publicado no volume XIX da Standard Edition, edição brasileira, Imago, 1976, página 341. Freud escreve sobre o emprego da psicanálise na educação, em especial sobre a expectativa que "o interesse psicanalítico nas crianças beneficiaria o trabalho da educação (...)". Freud faz uma pequena frase sobre o objetivo da educação que faria um grande fracasso se fosse dita hoje, diante dos auditórios das faculdades: segundo ele, o objetivo da educação é "orientar e assistir as crianças em seu caminho para diante e protegê-las de se extraviarem".
De minha parte acho que a frase de Freud é uma pérola de sabedoria. Mas o humor dos tempos vai para outro lado, como se sabe.
Bom, vamos para a passagem:
"Minha cota pessoal nessa aplicacão da psicanálise foi muito leve. Em um primeiro estádio, aceitei o bon mot que estabelece existirem três profissões impossíveis - educar, curar e governar - e eu já estava inteiramente ocupado com a segunda delas. Isto, contudo, não significa que desprezo o alto valor social do trabalho realizado por aqueles meus amigos que se empenham na educacão."
Nem poderia desprezar, dá vontade de acrescentar, pois os educadores estão emparelhados com ele, na tal da impossibilidade. Nessa passagem, de 1919, como se pode ver, a palavra 'impossíveis' é usada sem aspas, ao contrário do que ocorre no texto de 1937. Na literatura que consultei a respeito dessas passagens não há notícia de outro autor que diga algo parecido, por escrito e que estivesse sendo citado. Resta concluir que Freud, com as aspas, em um caso, e com a idéia de "aceitar um 'bon mot', c'est a dire, une boutade, acrescentaria eu, estava suspendendo o uso comum de 'impossível'.
Pois é disso que se trata, no final das contas, de um uso especial, que resta por ser melhor esclarecido.

1 Comments:

Blogger Gisele Secco said...

Pois eu fui lá olhar o Zamora e lembrei que no dia em que eu comprei a revista, e li o artigo pela primeira vez, estava mais pro partido da complexidade e dos novos modelos explicativos do que hoje em dia. Revisões básicas são as que a vida impõe, não?
Eu fico "assim meio down" toda vez que "orkuteio" e, nas comunidades sobre o ensino de filosofia, ou mesmo na blogosfera, só dou sorte de encontrar ou reclamões da "impossibilidade", partidários da não existência de "pautas" para o ensino de filosofia, ou hostis à discussão de viés didático.
Tens razão sobre a pérola do Freud(agora estou lembrando daquelas falas tua e da Marilu lá no audimax, era exatamente esse o ponto).
Não se perder por aí parece tão mais impossível quanto se anda. Mas nada de ficar down, não é? Afinal:

"Não tá morto quem peleia"

Tem uma música d'O Rappa que se chama "Não perca as crianças de vista", com un versos assim:

"Pra enxergar o infinito
Debaixo dos meus pés
Não basta olhar de cima
E buscar no escuro, no obscuro
A sombra que me segue todo dia

Deixo quieto
e seguro as páginas dos sonhos que não li
E outra vez não me impeço de dormir

Os jornais não informam mais
E as imagens nunca são tão claras
Como a vida
Vou aliviar a dor e não perder
As crianças de vista"...

4:53 PM  

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